As políticas de segurança da informação adotadas por grandes
empresas negligenciam a principal fonte de risco aos sistemas de tecnologia: os
próprios usuários, mostra estudo da Flipside, empresa responsável por eventos
de cibersegurança.
A pesquisa mostra que 27% das violações de segurança são
causadas por falha humana. "Na prática, a gente acaba vendo que o usuário
é o elo mais fraco", diz Anderson Ramos, diretor da companhia.
"Eles são o ponto de partida para ataques mais
sofisticados. Se você compromete a máquina da secretária do presidente, por
exemplo, o impacto pode ser até maior do que comprometer o computador do
próprio presidente", complementa.
O estudo da Flipside foi realizado com 178 profissionais que
tomam decisões de segurança digital em empresas de diferentes setores e
indústrias. A pesquisa mostra que o percentual de funcionários que possuem um
compromisso "completo" com a política de segurança do seu local de
trabalho caiu de 31,7% no ano passado para 23,5% em 2017.
O cenário é de crescimento dos ataques, apesar da alta no
investimento em segurança digital. Estudo de Fabiano Vallesi, analista do banco
Julius Baer, indica que 100% das companhias americanas sofreram ataques via
vírus, trojans e worms (programa malicioso que se espalha pela rede) em 2015. A
instituição calcula que os gastos com cibersegurança cresçam ao ritmo de 7,5%
por ano até 2020, para US$ 114 bilhões.
"A contínua evolução das ameaças e ataques a sistemas
de tecnologia da informação é outro grande fator que evidencia a necessidade da
cibersegurança. Os cibercriminosos estão se tornando mais sofisticados e cheios
de recursos", aponta o estudo.
Segundo pesquisa da Allianz, crimes cibernéticos custam US$
445 bilhões à economia global todos os anos. No Brasil, estudo do Instituto
Ponemon, financiado pela IBM, mostra que os gastos médios totais com vazamento
de dados neste ano serão de R$ 4,7 milhões, aumento de 9,5% na comparação com
2016.
Relatório da consultoria PwC mostra que, no Brasil, 59% das
empresas aumentaram o investimento em segurança da informação em 2017 em
relação ao ano passado, priorizando a colaboração entre os setores de negócios
e de tecnologia.
VULNERÁVEL
A pesquisa da Flipside mostra que o principal gatilho para o
aumento dos investimentos em segurança da informação é a ocorrência de algum
incidente. "É como colocar alarme na casa depois de ela ser
assaltada", comparou Ramos durante palestra no Mind the Sec, evento que
discute o mercado de segurança da informação no Brasil.
O estudo aponta ainda que o "phishing" (tipo de
fraude focada em obter dados pessoais do usuário) é a maior fonte de
preocupação para 61% dos gestores de segurança de empresas. Em segundo lugar,
está o compartilhamento de senhas, com 48,6%.
A cautela tem razão de ser: desde 2015 o Brasil lidera o
ranking de phishing da Kaspersky Lab, empresa de antivírus. No país, 18,1% dos
usuários foram alvo do crime no segundo trimestre deste ano. A China, segunda
colocada, aparece com 12,9%.
CRISE ECONÔMICA
Para Ramos, fatores como economia fraca e desemprego
influenciam na intensidade de ataques que têm como alvo o usuário. "É
natural que criminosos que vão adentrando nesse segmento não tenham muito conhecimento
técnico, então atacar o usuário é o mais simples".
Um ataque desse tipo poderia incluir a criação de uma conta
falsa em uma rede social, que seria usada para conseguir a confiança e
informações do alvo. Uma foto íntima do usuário, por exemplo, obtida por esse
meio pode se tornar objeto de extorsão. De acordo com o especialista, a prática
é comum na Europa e deve ganhar força no Brasil.
Outra influência da crise, diz Ramos, é a menor frequência
de treinamentos de segurança, muitas vezes usados como forma de atrair
profissionais. "Quando o desemprego bate 15%, a empresa não precisa
trabalhar na atratividade", afirma.
A preocupação com essas ameaças tem explodido neste ano,
principalmente após a onda de ciberataques que atingiu computadores de empresas
e órgãos governamentais em pelo menos 74 países em maio, incluindo o Brasil.
Na ocasião, os hackers usaram um "ransomware",
software que bloqueia informações e exige dinheiro para destravá-las.
Fonte: Folha de S. Paulo
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